"Não sei se há outro sofrimento humano maior que aquele vivido em um surto: o abandono, o desespero, a perda radical de tudo. Laing diz que loucura é solidão. O louco não faz consenso. Mesmo aquele que em seu delírio é Napoleão não pode compartilhar seu delírio com aquele que é soldado de Napoleão. Eles não podem delirar juntos. A solidão da loucura é maior que aquela de uma cela solitária, é devastadora". Assim Pompeia descreve a dor da loucura no livro "Na presença do sentido".
Frequentemente nos deparamos com dois tipos de louco: Um é aquele que vive sob controle e efeito de psicofarmos e muitas vezes é afastado do convívio social. Já o outro, embora não precise de remédios, é chamado 'louco' por parecer estranho, como quem não se encaixa na realidade em que vive.
O louco que está sob controle de remédios, na maioria das vezes não é compreendido por ninguém pois sua fala é desconexa, fora de contexto ou parecem absurdas e por isso vive a solidão. O outro tipo de louco, só não é considerado louco de "hospício", por ser compreendido dentro de um contexto, ou seja, a sua "loucura" é aceita e compartilhada dentro de um contexto social (mesmo que seja por uma minoria, suas idéias possuem algum sentido). Este é o ponto que gostaria de destacar: Se Laing diz que loucura é solidão, mesmo em proporções muito diferentes, acredito que os dois tipos de loucos sentem essa angústia. Carlos Moore (Cubano, exilado em Salvador) disse: Preparem-se para a solidão, a revolução exige esse exercício. Essa solidão está gravada no rosto de grandes homens que passaram por aqui. O apóstolo Paulo fala da loucura do "ser diferente". Ele diz que a sabedoria de Deus é loucura para os que se perdem. Baseado nesse versículo, muitos adeptos da moda "gospel", aproveitaram para reafirmar seu estilo, seu jeito de falar, de se vestir, etc. Em alguns lugares, muitos não se sentiriam bem por não serem tão ousados na forma de vestir e falar. O ser diferente se tornou normal, e o ser normal se tornou diferente. Mas a loucura que Paulo se refere é outra e está muito além da questão do estilo. Essa é a loucura de andar na contramão do que é chamado normal. É o dizer não quando todos dizem sim. É o se incomodar em meio ao comodismo. É ser aquele que ama quando todos já não se lembram dessa palavra (muito menos da sua prática). Todos os "loucos" faziam isso. Na maior parte, eles foram mortos devido ao grau de absurdo que pareciam suas ideias. São pessoas que enxergam além do seu tempo, e muitas vezes, somente serão compreendidas em gerações futuras. Eles não possuem padrão de vestimenta ou modo parecido no falar. São esquisitos por não se enquadrarem em padrões. Assim vive um louco de "boa cabeça". É como quem enxerga algo além da realidade, mesmo quando ela parece tão certa, previsível e imutável.
Eles não são loucos por negarem a realidade, mas sim por questionarem seus princípios.
Se os valores do mundo atual contribuíssem para o bem comum, talvez eles seriam pessoas normais, porém, enquanto existirem valores distorcidos e movidos por ideologia de classes que detém o poder (material, intelectual e até "espiritual"), esses loucos se farão necessários, e assim como Bob Marley dirão: "Sou louco porque vivo em um mundo que não merece minha lucidez".
Portanto, se queres transformação, prepara-te para parecer estranho. Prepara-te para a solidão.
Não se conforme com este mundo mas o transforme, transformando primeiramente a própria mente, como nos versos do Pensador, que convoca todos para acordar lembrando que "quando a gente muda o mundo muda com a gente, a gente muda o mundo na mudança da mente".
Assim o mundo será um lugar melhor, e mesmo que seus objetivos não sejam alcançados, uma nova morada surgirá. Ali sentirá solidão, mas também a contemplação de um novo mundo que há de vir, e que ao mesmo tempo já existe - ao menos na cabeça de mais um louco.
Conversa de fila de lavar louça!
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