Reticências

Salomão escreveu que melhor é a casa onde há luto do que a casa onde há festa, porque ele não estava de luto.
A gente sabe disso. Poeticamente, profeticamente.
A sabedoria sabe que nesses ambientes paira a reflexão e que os humanos se enxergam, mas ...
Quando alguém que a gente gosta, nos deixa, essa afirmação deixa de fazer sentido, por maior que seja nossa esperança de reencontro ou de vida eterna.
Esperanças e fé à parte, o que a gente sabe é que não nos acostumaremos com a ideia de morte, talvez porque nosso ser clama eternidade.
Nem os suicidas concebem bem essa ideia. Pelo contrário. Buscam encontrar na morte, a vida que aqui foi violada e sentido que aqui faltou.
O mal do suicida é o egoísmo. Não que ele não tenha o direito de lhe fazer o que deseja - não questionaremos - mas de condenar os que o amam à dor de sua ausência.
Sim, porque a ausência é uma dor.
Uma dor maldita, latente, que só é curada com a presença e minimizada com a esperança.
Eu já lidei com a morte de diversas formas. Nos conhecemos e nos respeitamos.
Ela sabe que sou enjoado e eu sei que ela é detalhista.
Mas ainda não aprendi a lidar com a ausência.
Esse vazio, buraco negro, vácuo, silêncio sem fim, reticências ...
Se ela vier me levar, vai encontrar o que merece! Um bom soco na cara e aquela foice voa longe!
Só aceito o convite de Deus. Nada de surpresas daquela arrogante.
Ela não vai me arrastar, nasci pra voar! E a gente voa quando precisa alcançar os Céus.
Não sei se me encaixo no termo cristão, percebo que não, sou herege segundo muitos deles, mas amo os ensinamentos sagrados dos cristãos e a pessoa de Jesus.
Lembrei de uma canção cristã:



Fraco e ferido pecador
Perdido e caminhando para a morte
Levante sua cabeça pois o amor está passando
Venha pra Jesus
Venha pra Jesus
Venha pra Jesus e viva!

Agora o seu fardo foi tirado
E levado embora
E o precioso sangue te lavou, então
Cante pra Jesus
Cante pra Jesus
Cante pra Jesus e viva!

E como um recém nascido
Que não tem medo de engatinhar
Lembra que enquanto caminhamos
Algumas vezes nós caimos, então
Caia em Jesus
Caia em Jesus
Caia em Jesus e viva!

Algumas vezes o caminho é sozinho
íngrime e cheio de dor
Se o seu céu está escuro e pronto para chover, então
Chore pra Jesus
Chore pra Jesus
Chore pra Jesus e viva!

Ou quando o amor trasborda em você
e a música enche a noite
ou quando você não pode conter a alegria dentro de você, então
Dance pra Jesus
Dance pra Jesus
Dance pra Jesus e viva!

E com a última batida do seu coração
Beije o mundo, adeus
Vá em paz e se regozije na Glória
Voe pra Jesus
Voe pra Jesus
Voe pra Jesus e viva!

A gente não tinha grana mas tinha sonhos e sapatos furados. Repartíamos o tênis que eu havia ganhado de presente. Ele era nosso, porque calçávamos o mesmo número. Não só isso, mais coisas nós dividimos: O peso das caixas, o prato de sopa, a latinha de cerveja, a esfiha do Habibs, a casa por mais de anos, as dores e risadas.
Ele curtia o Espanta, aquele humorista do Ceará. Assistia todo dia, o dia todo.
E ninguém que eu conheci cozinhava melhor que ele. Mineiro, caprichava no tempero.
Uma vez só tinha arroz e feijão. Pois foi o melhor, ele caprichou, tanto, que não precisou de mais nada... nem carne, nem salada.
Agora, eu tenho saudade.
Você voou, mano, e eu achei que não táva na hora.
Mas sei de uma coisa: Não há como recusar esse doce convite Daquele que você ama.
Beije o mundo, adeus. Vá em paz e peça pra esse nosso Amigo em comum minimizar a minha saudade.

Gito.

Segunda, 13 de Agosto de 2010. Dia em que o Lucinei voou.