quarta-feira, 7 de julho de 2010

Porque não perdi minha fé...

Antes mesmo que eu começasse estudar na faculdade, eu já tinha ouvido falar que a maioria dos alunos terminam o curso se declarando ateu. Comecei a perceber no decorrer do curso que não existe um discurso que fale contra Deus e nem mesmo algum interesse em provar que Deus não existe. Tal ideia sobre a divindade é simplesmente ignorada ou como disse Nietzche: ""Gott ist tot" (Deus está morto). Por mais que o próprio Freud, pai da psicanálise, conseguisse dialogar com respeito sobre tais assuntos, e também considerar várias questões relacionadas a fé (o que fica evidente no livro "Cartas de Freud e Pfister"), na sala de aula tal assunto é descartado.
Poucos admitem a existência de um ser superior, e muito menos, a de um Deus que se relacione com a humanidade e a ame. Falar disso em sala de aula é chover no molhado ou, como já é comum se ouvir na europa, isso é retroceder.
As respostas pra tantas perguntas feitas pelo homem tentam ser respondidas a luz da ciência e, diante da possibilidade que o homem possa dar conta de seus dilemas e tê-lo como sujeito do conhecimento em busca da verdade empirica, a ideia de um Deus é atribuida àqueles que não suportando a dor da falta de respostas e significados, ou a dor de existir, constróem um Deus para amenizar suas angústias. Em outras palavras: Deus é o refúgio dos fracos.
Mesmo diante de tais argumentos continuo convicto que Deus existe como um ser relacional.
Não pretendo provar que estou mais certo ou ousar utilizar da própria ciência para afirmar que Deus existe. Apenas continuo com minha fé devido a minha experiência pessoal que só pode ser contestada por mim mesmo, pois é verdade em mim.
Não foi porque orava durante as aulas que não perdi minha fé, e sim porque quando tinha fome na faculdade, e mesmo sem dinheiro algum, meu amigo Lucas repartia seu lanche comigo.
Não perdi minha fé porque em todo esse tempo continuei amigo do Bob e sua esposa Greice. Vi nesse tempo a transformação ocorrida na vida desse meu amigo. Certamente a leitura ficaria exaustiva se fosse pra descrever todas transformações que ocorreram. Um garoto que antes tinha prazer em se drogar e utilizar da violência para atingir seus objetivos, hoje vive para servir ao próximo e demonstrar amor para com eles, levando um pouco de paz e amor onde tais sentimentos são escassos.
Não perdi minha fé porque conheci amigos. Entre ele um chamado Gito, outro Rogério Boy e a amiga Bruna. Pessoas inteligentes que mesmo podendo viver como a maioria dos jovens vivem, em busca de seus próprio interesses, acreditaram na proposta de um reino de amor e escolheram viver a serviço deste, levando consigo a esperança de transformações sociais, coletivas e também individuais, enfrentando muitas dificuldades e tendo de vencer incontáveis obstáculos além de seus próprios medos e temores.
Não perdi a fé pois vi uma amiga chamada Teka*, uma menina que mesmo cuidando de uma mãe enferma, não deixou de carregar em seu rosto um sorriso de alegria, fé e esperança.
Não perdi a fé porque quando o professor termina sua aula, o sinal bate e todos vão embora, acredito na presença de alguém que renova minhas forças e me ajuda atravessar momentos de temores desconhecidos.
Não perdi a fé porque sou amigo do Bruno Arruda, um cara que perdeu recentemente a mãe e dois irmão e mesmo assim consegue dizer que Deus é bom.
Não perdi a fé porque sei que os remédios ajudaram meu pai sair da depressão, mas o que lhe devolveu a razão de viver foi a convivência com irmãos em comunidade, aquela criada por Cristo a mais de dois mil anos atrás, que até hoje existe e contribuiu para que ele não utilizasse a corda que comprou e pretendia se enforcar no momento de desespero.
Não perdi minha fé porque não tenho outra esperança nesse mundo senão a intervenção divina para minha constante restauração e a da minha família.
Não perdi miha fé porque quando os pensadores morrem, os livros se fecham e nada mais faz sentido, é Deus quem tem respostas de vida para quem já não sabe o que é viver.
Não perdi minha fé porque se de fato, Deus é o refúgio dos fracos, hoje reconheço quão fraco sou e o quanto necessito desse refúgio para viver.


*Alguns dias após eu ter escrito esse texto a mãe dessa amiga veio a óbito. Sua força, consolo para conosco, amigos (que talvez ficamos mais abalados que ela) e sua paz em meio a dor, reforçam tudo que eu já havia escrito acima. O homem pode descrever processos através da lógica, mas jamais nos trará tais sentimentos de paz sem razão de ser, que são simplesmente indescritíveis e inexplicáveis.

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